Subscribe Twitter Facebook

Sobre o Wantuil


Mineiro, de Patrocínio de Muriaé, em 19/10/1895 nasceu Antônio Wantuil de Freitas, que exerceu, com raro descortínio, a Presidência da Federação Espírita Brasileira por 27 anos consecutivos, e desencarnou no Rio de Janeiro em 11/03/1974.

Sua vida foi marcada por dificuldades diversas, pois, ficando órfão de pai aos 5 anos de idade, e de mãe aos 22 anos, só lhe foi possível a diplomação em Farmácia em 1913, graças à ajuda dos irmãos. Casou-se em 1919 com D. Zilfa Fernandes de Freitas, com quem teve sete filhos.

Após exercer a profissão em diversas cidade, foi para o Rio de Janeiro de 1924, ali se instalando como farmacêutico-industrial.

Seus anseios sempre nortearam sua busca no que dizia respeito a religiões e filosofias, nas quais buscava respostas que viessem ao encontro do que buscava, quando , em 1932, a convite de um velho amigo, fora a uma sessão espírita, embora com certo ceticismo, pois, era egresso do catolicismo e simpatizante do protestantismo metodista.

No decorrer da sessão, presenciou a manifestação mediúnica de sua mãe, que recordou fatos de sua vida, muito dos quais só ambos tinham conhecimento. A partir desse momento, sua incredulidade se desmoronou e tornou-se leitor assíduo do Espiritismo, durante meses seguidos, de um sem número de obras espíritas. Concomitantemente, em seu lar, surgiram uma série de fenômenos mediúnicos, que indiscutivelmente comprovavam a teoria que havia haurido dos livros. Torno-se então um espírita convicto.

Foi um profissional bem sucedido, ao custo de muito trabalho, mas, em 1944, passou a direção da indústria aos filhos a fim de dedicar-se ao Espiritismo, vivendo desde então exclusivamente para o seu ideal.

Ainda em 1932, ingressou como sócio da FEB, já no ano seguinte participou do Conselho Federativo, e em 1936, foi membro efetivo da Assembléia Deliberativa, e Guillon Ribeiro, então Presidente da Casa-Máter, vendo nele um espírita de grande potencial, convidou-o às eleições de 09/08/1936, onde foi eleito e assumiu o cargo de gerente do Reformador, e ficou até 1943, quando ascendeu à presidência da Casa de Ismael, ali permanecendo até 22/08/1970, initerruptamente reeleito todos os anos, quase sempre por unanimidade.

Em diversas ocasiões, teve que ir em defesa do Espiritismo, como em 13/06/1939, quando, sozinho, defendeu o Espiritismo na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, da qual era sócio, contra acirrada campanha movida por alguns de seus membros. Em outro momento, teve que comparecer ao Ministério da Justiça onde seria interrogado por um tribunal, composto de um general, um almirante e um ministro. Wantuil não se intimidou em sua defesa do Espiritismo, e se não fosse a intervenção do Ministro, teria sido preso pelo almirante.

Em outra ocasião, durante o Governo de Getúlio Vargas, entre 1941 - 1945, vivia-se um clima de perseguições, com portarias de cerceamento às sociedades espíritas, com fechamento no Rio de Janeiro de todas elas, inclusive da Federação Espírita, onde todos os dirigentes foram fichados num cadastro policial. Diante disso, formou-se uma comissão, presidida por Wantuil de Freitas, que inclusive foi porta-voz, e, em março de 1945, partiram em defesa dos direitos do Espiritismo, vindo a derrubar as infelizes portarias que impediam o livre funcionamento das casas espíritas.

Porém, os artigos 282 e 284 do Código Penal ainda pendiam sobre a cabeça dos espíritas, podendo ser aplicados a qualquer momento, e Wantuil, inconformado com isso, conseguiu uma audiência com o então presidente General Vargas, cuja conversa resultou num clima menos inflexível com os adeptos do Espiritismo.

O Reformador teve uma tiragem recorde de 40.000 exemplares nos 27 anos em que Wantuil de Freitas foi seu diretor e presidente da FEB, graças ao trabalho de escolha dos artigos e uma revisão rigorosa.

Em 1946, criou o Departamento Editorial da FEB no bairro de S. Cristovão, e em 1948 começaram a funcionar ali as máquinas impressoras, "dando início ao período áureo da divulgação do livro e à incrementação da propaganda em geral", tornando-se assim responsável pela divulgação maior da Doutrina Espírita através do livro e pela imprensa.

Outro acontecimento de suma importância ocorreu em 05/10/1949, na realização da Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro, da qual resultou a Ata de Unificação, denominada "Pacto Áureo", em que Wantuil colaborou com a autoria de dezoito significativos ítens.

Se devem a ele os quatro únicos selos postais espíritas emitidos no Mundo, sendo o primeiro sobre o Centenário da Codificação do Espiritismo, em 1957, tendo alcançado retumbância internacional.

Quando surgiu o "caso Humberto de Campos", em que a viúva do escritor promoveu em Juízo uma ação declamatória contra a FEB e Chico Xavier, Wantuil imediatamente coordenou um grupo de colaboradores em defesa da causa, e, nesse período, varou noites adentro no exame de toda a matéria qe lhe chegava às mãos, alterando, acrescentando, suprimindo, surgerindo, para que a peça contestatória, fosse jurídica e doutrinariamente uma obra impencável.

Graças ainda a seus esforços, assessorado por dedicados companheiros como Antonio Fernandes Soares, nasceu a sede da Federação Espírita Brasileira (DF), num terreno doado pelo Novacap, com escritura assinada, em 1965.

Foi um dos associados mais antigos da Associação Brasileira de Imprensa, e de muitas outras Sociedades Espirituais, inclusive Esperantistas, como a Liga Brasileira de Esperanto.

Cinco dias antes de sua desencarnação, Bittencourt Sampaio, pelo médium Olímpio Giffoni, declara: "Podemos afirmar-vos que bem poucos deram tanto em favor da causa espírita: sua dedicação transformou-se em renúncia do homem comum, para tão somente cuidar da Casa de Ismael".

(Anuário Espírita 1995 - Nº 32 - IDE e "Reformador", Novembro, 1995)